Cerca de 20, dos quase 60 comércios da avenida Detetive Eduardo Fernandes, no bairro Novo Aarão Reis, na região Norte de Belo Horizonte, permaneciam fechados na manhã desta quarta-feira (18), após um suposto toque de recolher emitido por traficantes locais, desde domingo (15). A ordem seria em “sinal de respeito” pela morte de um homem, de 35 anos, conhecido por Cimazinho, que é apontado como chefe do tráfico de drogas. Ele foi assassinado, com 15 tiros.
A denúncia de um morador do bairro acusa que, por dois dias, o comércio não pôde funcionar como de costume. A reportagem de O TEMPO percorreu a avenida nesta quarta e conversou com alguns dos comerciantes que abriram as portas. “Ele morreu, está enterrado, já acabou, gente, e eu preciso trabalhar”, disse um comerciante que pediu para não ser identificado.
Em outro estabelecimento, um funcionário desconversou sobre o caso e disse que não sabia sobre toque de recolher. O mesmo aconteceu em uma loja do outro lado da avenida. “Não sabemos de nada. Não vamos falar a respeito”, disse enquanto desviava da conversa.
Apenas em um dos comércios abertos a pessoa que estava trabalhando no local deu algumas informações sobre o caso, mas sem expor muitos detalhes. “Ele era uma boa pessoa, muito educado, nem sei o que fazia da vida. Só via ele passando por aqui”, relatou.
Segundo essa testemunha, o não funcionamento do comércio dela, na segunda e na terça-feira, foi por vontade própria. “Ninguém abriu, e decidi não abrir também. Na terça não quis abrir, pois precisava descansar”, justificou. Ao ser questionada sobre a morte do Cimazinho no domingo, ela respondeu que não sabia pois "estava viajando”.
Ao mesmo tempo em que afirmava que os colegas comerciantes não trabalharam nos dois dias por uma questão de “respeito” ao homem morto, a testemunha emitia sinais com olhos e mãos para que a conversa fosse para outro rumo. Em determinado momento ela sussurrou “não posso ficar falando aqui” e apontou com a cabeça para as pessoas que estavam na rua.
O homicídio
Cimazinho foi executado com 15 tiros na noite do último domingo (15), quando estava sentado na escada de um bar na avenida detetive Eduardo Fernandes, no bairro Novo Aarão Reis. Segundo o registro da PM, dois suspeitos chegaram ao local armados com pistolas e efetuaram os diversos disparos contra o homem, fugindo em seguida em um Fiat Palio prata. O carro era conduzido por outro suspeito e foi em direção à rodovia MG-020.
Ainda segundo o boletim de ocorrência da corporação, testemunhas relataram que o crime seria uma "vingança" e que o mandante seria um homem tetraplégico que, em maio de 2022, foi baleado e perdeu um irmão em um atentado. O crime registrado há pouco mais de 7 meses, teria sido orquestrado por Cimazinho, em decorrência da disputa pelo controle do tráfico de drogas no bairro.
PM nega toque de recolher
Em uma outra ocorrência registrada no domingo, em que descreve a perseguição a um veículo suspeito de envolvimento no assassinato - que acabou com a prisão de um rapaz de 23 anos e um homem de 50 anos atropelado -, a própria PM afirma que Cimazinho "é apontado como um dos lideres do tráfico no bairro Novo Aarão Reis".
Apesar do envolvimento do homem com a criminalidade ser claramente de conhecimento das forças policiais e dos moradores do bairro, procurado pela reportagem de O TEMPO na manhã desta quarta-feira (18), o 13º Batalhão da PM, responsável pelo policiamento da região, enviou uma nota em que chama a vítima apenas de "morador do bairro" e nega o toque de recolher.
"Comerciantes locais, em respeito à morte de cidadão que era morador do bairro há mais de 30 anos e que era querido na comunidade, estão em luto pelo morador, segundo informaram os próprios comerciantes", disse a corporação.
A polícia garantiu ainda ter adotado medidas preventivas para coibir crimes na área e "aumentar a sensação de segurança da população", com "operações saturação" e "policiamento 24h" no bairro. Apesar disso, a reportagem esteve no Novo Aarão Reis na manhã desta quarta e não viu viaturas ou policiais, enquanto uma grande parte dos comércios seguiam com as portas fechadas.
O batalhão ainda disse que a principal motivação das mortes seria vingança e que "tais mortes não têm relação com nenhuma ação da PM". "O 13º BPM esclarece que está atento aos crimes ocorridos em sua área de atuação, colocando-se à disposição dos cidadãos através do telefone 190, em caso de acionamento do serviço de emergência policial, ou do Disque-Denúncia, pelo telefone 181", finaliza a nota da PM.